Médicos deveriam prescrever mais frutas e vegetais do que medicamentos. E os governos e companhias de seguro poderiam pensar seriamente em subsidiar esses produtos como forma de frear os milhões de casos de doenças crônicas e os custos gerados por elas.
As conclusões vêm de um estudo da Universidade Tufts, publicado na revista médica PLOS Medicine. Segundo o trabalho, a prescrição poderia gerar uma economia anual de mais de US$ 100 bilhões e evitar até 3,28 milhões de infartos, derrames, entre outras condições médicas.
Cerca de 70% das doenças nos EUA são crônicas e relacionadas ao estilo de vida. Elas consomem 86% dos custos anuais com saúde. E isso não é pouco. Nos últimos 50 anos, os gastos com saúde triplicaram, de 5% do PIB (Produto Interno Bruto), em 1960, para 17,9% em 2016, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).
O estudo usou modelos matemáticos para calcular o impacto da prescrição de alimentos saudáveis a adultos entre 35 e 80 anos inscritos no Medicare e/ou Medicaid (programas federais de saúde).
Foram criados dois cenários: um em que os programas cobririam o custo de 30% de frutas e vegetais e o outro em que subsidiariam 30% de frutas, legumes, frutos do mar, cereais integrais, óleos vegetais e outros alimentos saudáveis.
Os resultados mostraram que, no primeiro cenário, seriam evitados 1,93 milhão de eventos cardiovasculares e 350 mil de mortes. Também haveria uma redução de US$ 40 bilhões em custos de saúde.
No segundo cenário, com mais oferta de produtos, calcula-se 3,28 milhões de eventos cardiovasculares e 620 mil mortes a menos. E uma economia de US$ 100 bilhões ao sistema de saúde norte-americano.
“Ambos os cenários foram rentáveis em cinco anos e altamente rentáveis em dez, 20 anos e ao longo da vida”, diz o estudo. Atualmente, 76% das consultas médicas tradicionais nos EUA resultam em uma receita de medicamento.
Uma série de outros estudos já demonstrou os inúmeros benefícios da alimentação saudável e o seu impacto no bem-estar mental e físico, em comparação com a junk food.
A prescrição de alimentos também tem sido defendida por indústrias de saúde e bem-estar. O Farm Bill de 2018 (legislação estadunidense, renovada a cada quatro anos, que consolida os programas de política agrícola), por exemplo, destinou US$ 25 milhões para o financiamento de projetos-piloto que avaliem o impacto da adoção de alimentos mais saudáveis em certos grupos populacionais.
A iniciativa vem depois de várias outras tentativas de se cobrir os custos de alimentos nutritivos. Em Nova York, por exemplo, foi testado um programa piloto de prescrição de alimentos em dois hospitais públicos que atendiam bairros de baixa renda. As famílias recebiam vales e reuniam-se rotineiramente com nutricionistas para discutir seus hábitos alimentares.
Na Califórnia, foi lançado em maio passado um programa piloto de US$ 6 milhões para dar refeições nutritivas a mil pacientes com diabetes tipo 2 e sem problemas cardíacos. O esforço é para manter pacientes com doenças crônicas em casa e fora de hospitais e casas de repouso.
“A oferta de alimentos como abordagens de medicina estão ganhando força real”, disse Dariush Mozaffarian, um dos autores do estudo e diretor da Escola Friedman de Ciência e Política de Nutrição da Universidade Tufts, à Science Magazine.
“Se os estudos-pilotos forem implementados e funcionarem, há uma chance muito real de que você possa, em um futuro próximo, ir ao médico, ele prescrever alimentos e uma companhia de seguros pagar uma parte deles.”
Que assim seja.
Cláudia Collucci
Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.
Dr. Frederico Lobo - Nutrólogo Joinville
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