O que não é Nutrologia


Com o adventos das redes sociais, em especial do Instagram e Facebook, a Nutrologia tem sido invadida por profissionais de caráter duvidoso. Profissionais estes que se dizem Nutrólogo sem serem titulados, apenas porque cursaram uma Pós-graduação de curta duração. Mas pior do que isso, é o fato de terem condutas médicas que não são comuns à prática Nutrológica e alegarem que aquilo é Nutrologia, mesmo a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) contradizendo. Ou seja, além de usurparem um título que não possuem, ainda mentem que um tipo de prática faz parte do arsenal terapêutico da Nutrologia. E o paciente acredita, afinal é leigo.  Então, aqui resolvi fazer uma descrição de práticas que não fazem parte da Nutrologia, mas que tenho visto com frequência aqui em Joinville e nos pacientes que atendo de outras localidades de Santa Catarina.

As informações aqui listadas foram extraídas em sua maioria do próprio site da ABRAN: https://abran.org.br/2018/03/14/rol-de-procedimentos/

Modulação Hormonal

Recentemente a ABRAN  publicou em seu site um parecer especificando claramente que a a Modulação Hormonal não faz parte do rol de procedimentos Nutrológicos. O documento pode ser acessado aqui: http://abran.org.br/2018/07/04/posicionamento-sobre-a-modulacao-hormonal/

Prática Ortomolecular ou “medicina Ortomolecular”

A Ortomolecular é um tipo de estratégia terapêutica, que surgiu na década de 60 com o cientista Linus Pauling e ao longo dos anos foi crescendo e se popularizando. Não é uma especialidade médica de acordo com o  Conselho Federal de Medicina, conforme consta na resolução 2004/2012.   É composta por alguns preceitos baseados em bioquímica nutricional e tem muita coisa válida, como por exemplo a detecção de intoxicações por metais tóxicos ou por nutrientes. De forma clara, por anos vários médicos praticantes da Ortomolecular utilizaram dos conhecimentos da Nutrologia e incorporaram às suas práticas. Muitos médicos praticantes de estratégia Ortomolecular são titulados em Nutrologia pois há cerca de 15 anos a única especialidade que os acolheu de forma indireta foi a Nutrologia. Na verdade, não foi um acolhimento, foi uma similaridade em alguns aspectos da prática, como investigações de déficits nutricionais. Na atualidade pouquíssimos médicos titulados (recentemente) são praticantes de Ortomolecular. Os poucos que o fazem, agem de forma mais consciente, buscando basear a prática em evidências científicas. Concluindo: Ortomolecular não é sinônimo de Nutrologia. Em 2012 o Conselho Federal de Medicina publicou uma resolução com os princípios norteadores da Prática Ortomolecular e nessa resolução ele especifica o que é permitido e o que não é permitido ao praticante das estratégias ortomoleculares. http://portal.cfm.org.br/images/stories/pdf/res2004.pdf A própria ABRAN já emitiu um posicionamento explicando que as estratégias ortomoleculares não fazem parte da Nutrologia.

Ozonioterapia

A ozonioterapia é uma terapia com algum grau de evidência científica para determinadas doenças. Porém não é a panaceia que muitos médicos propagam e nem isenta de efeitos adversos. A aplicação de gás ozônio por via retal, nasal, endovenosa ou intramuscular nunca fez parte do arsenal terapêutico da Nutrologia segundo a ABRAN. Apesar de ser legalizada na Rússia, Alemanha, Cuba, Espanha, Itália, Portugal, no Brasil a técnica é classificada como experimental pelo Conselho Federal de Medicina. A ANVISA em 2022 especificou através de uma nota técnica quais as indicações para utilização de ozônio medicinal e são elas:
1) Dentística: tratamento da cárie dental – ação antimicrobiana;
2) Periodontia: prevenção e tratamento dos quadros inflamatórios/infecciosos;
3) Endodontia: potencialização da fase de sanificação do sistema de canais radiculares;
4) Cirurgia odontológica: auxílio no processo de reparação tecidual;
5) Estética: auxílio à limpeza e assepsia de pele;

Terapia com hCG

Dieta altamente restritiva (500kcal/dia) na qual se utiliza o hormônio hCG com finalidade de emagrecimento. As entidades médicas sérias se posicionam contra esse tipo de dieta e a mesma não faz parte do arsenal terapêutico da Nutrologia, apesar de alguns médicos titulados assim fazerem.

Uso de Anabolizantes/ Esteróides Androgênicos Anabolizantes (EAA): testosterona em gel, testosterona injetável, oxandrolona, gestrinona

A Nutrologia utiliza hormônio em sua prática? Sim, mas com indicações específicas e isso não é comum, ou seja, para pacientes com massa magra muito baixa e decorrente de algumas doenças: ex. caquexia do câncer, caquexia do paciente portador de enfisema, pacientes que perdem peso durante a internação hospitalar, pacientes anoréxicos. No contexto de déficit de testosterona decorrente do envelhecimento, a reposição só deve ser feita se existir queixa, sendo o endocrinologista o profissional mais indicado para fazê-la. Prescrição de qualquer EAA com finalidade estética (ganho de massa, melhora da composição corporal) é proscrita, não sendo recomendado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), conforme posicionamento emitido em 2022: https://www.endocrino.org.br/wp-content/uploads/2022/09/Posicionamento-da-SBEM-Anabolizantes.docx.pdf . Ou seja, EAA fazem parte do arsenal terapêutico da Nutrologia apenas se houver indicação respaldada pela literatura médica. 

Medicina antienvelhecimento/anti-aging

A Nutrologia engloba a Nutrologia geriátrica e a Oxidologia (estudos dos radicais livres) mas não engloba a utilização de práticas que visam retardar o envelhecimento com substâncias como procainoterapia, uso de antioxidantes sintéticos, doses altas de vitaminas, minerais e ácidos graxos. Portanto Nutrologia não é sinônimo de medicina anti-aging.

Medicina integrativa

A medicina integrativa surgiu nos Estados Unidos, em centros Universitários e Hospitais, principalmente em Arizona, Harvard, Mayo e Cleveland Clinic. A proposta é um resgate da medicina tradicional e humanizada, contrapondo o modelo tecnológico e frio da medicina com excesso de tecnologia, segmentada e com “pouco toque”, “pouco ouvir” e pouca autonomia do paciente.

No Brasil, nosso principal expoente é o Dr. Paulo de Tarso Lima, do Hospital Albert Einstein em São Paulo. Os preceitos dessa prática são: o paciente é ativo em seu processo de cura e recuperação; o médico vê o paciente com um todo, de forma ampla e integral, compreendendo aspectos como mente, corpo e estilo de vida.

No tratamento integrativo o foco sobre a doença é retirado, sendo médico e pacientes parceiros no tratamento e no processo de cura. Ajustes na dieta e nos hábitos alimentares, suplementação nutricional (quando necessária), prática regular de exercícios físicos, redução e combate ao estresse e terapias focadas em corpo e mente são os pilares que sustentam as mudanças em benefício da saúde.

É importante salientar que a medicina integrativa não é uma área “alternativa”, mas sim complementar. Essa não deixa de lado todas as possibilidades de recursos tecnológicos e exames, procedimentos, cirurgias etc. No entanto usa todo esse aparato aliado a posturas psicoprofiláticas, mudança do perfil do cliente para otimizar seu autocuidado, qualidade de vida e saúde.

Todo o contexto de vida deve ser avaliado: circunstâncias e peculiaridades profissionais, estressores familiares e conjugais podem ser abordados e correlacionados ao processo de enfermidade x cura.

A proposta de uma medicina mais integrativa é excelente, o que ocorreu foi uma total deturpação da proposta da Medicina integrativa e misturaram-na com terapias sem validação científica. Medicina integrativa não envolve uso de hormônios, mega doses de vitaminas, minerais, ácidos graxos, utilização de antioxidantes, páginas e páginas de receitas de medicações manipuladas e com indicação de farmácia específica.

Portanto, o Nutrólogo pode ser praticante dos preceitos da Medicina integrativa, sendo mais humano, ouvindo melhor o paciente, colocando como figura de autonomia no tratamento. Mas Nutrologia não é sinônimo de Medicina integrativa, Nutrologia é especialidade médica.

Dieta detox

O processo de destoxificação não é mito, ele realmente existe e a única coisa que você precisa fazer é fornecer os nutrientes adequados para que o seu fígado o faça. Ou seja, não é tomando um suco de limão com couve no café da manhã que o seu corpo irá se “desintoxicar”. Há pesquisadores que estudam os nutrientes e fitoquímicos que podem facilitar as reações de destoxificação, mas daí extrapolar, alegando que existe uma dieta própria para isso, é inaceitável. Tal tipo de prática nunca foi e nem fará parte do arsenal terapêutico da Nutrologia.

Chips hormonais ou “chip da beleza”

Muito na moda nos consultórios de alguns médicos que se intitulam Nutrólogos, o tal chip da beleza não encontra respaldo das sociedades médicas filiadas à Associação Médica Brasileira (AMB). Foram desenvolvidos com a finalidade de terapia anticoncepcional e para reposição hormonal, mas segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia não há evidências nem estudos realizados sobre os hormônios utilizados no chip. Como já dito acima, em medicina não se usa hormônio para fins estéticos. Nestes chips colocam hormônios androgênicos que podem alterar colesterol, pressão arterial, pelos, clitóris, voz e a distribuição de gordura. Mulheres de todas as idades (após a adolescência) estão fazendo uso pelo potencial em mudar a configuração corporal, reduzir celulites, melhorar a distribuição de gordura. O que na prática se vê por um curto período de tempo, depois os efeitos adversos surgem. Sendo assim o tal Chip da beleza não faz parte do arsenal terapêutico da Nutrologia, apesar de alguns Nutrólogos insistirem em prescrever para seus pacientes. Na visão da Nutrologia, redução de celulite, melhora da conformação corporal se dá com hábitos de vida saudável, alimentação equilibrada, além de prática de atividade física supervisionada e direcionada para o objetivo. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia emitiu um parecer contrário à utilização dos Implantes hormonais: https://www.endocrino.org.br/noticias/uso-e-abuso-de-implantes-de-gestrinona-no-brasil/

Assim como outras sociedades médicas:

An Endocrine Society Position Statement, 2019. Disponível em: https://www.endocrine.org/advocacy/position-statements/compounded-bioidentical-hormone-therapy

The 2017 hormone therapy position statement of The North American Menopause Society. Disponível em: https://www.menopause.org/docs/default-source/2017/nams-2017-hormone-therapy-positionstatement.pdf

FDA Statement on improving adverse event reporting of compounded drugs to protect patients. Released September 9, 2019. https://www.fda.gov/news-events/press-announcements/statementimproving-adverse-event-reporting-compounded-drugs-protect-patients

Comissão Nacional Especializada de Climatério da FEBRASGO. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/690-comissao-nacional-especializada-de-climaterio-dafebrasgo-se-posiciona-sobre-implante-de-gestrinona

Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da FEBRASGO. Disponível em:

https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1312-posicao-das-comissoes-nacionais-especializadas-deanticoncepcao-e-climaterio-da-febrasgo-sobre-implantes-hormonais

Autor: Dr. Frederico Lobo – Médico Nutrólogo – CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416

Dr. Frederico Lobo - Nutrólogo Joinville
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