Muito interessante esse estudo. Vai de encontro com o que defendo há quase 1 década: uso de polivitamínicos e multiminerais (PVM) deve ser restringido a grupos de risco para deficiências (bariátricos, gestantes, doenças de má-absorção).
Sempre explico para meus pacientes que a utilização de PVM pode ser arriscada, já que tudo dependerá do solo local (ex. solo do cerrado é rico em cobre, manganês, alumínio) e da dieta base do indivíduo. Sendo assim, muitas vezes o produto pode ser deletério, já que há um risco de ingestão excessiva de determinado micronutriente e com isso afetar a absorção de outros.
Portanto a dica que dou é: NÃO se automedique !
Além disso uma coisa que os estudos tem mostrado há quase uma década, é que muitas vezes um nutriente parece ser benéfico para algumas doenças, mas quando pesquisadores estudam as formas sintéticas elas parecem não mostrar os benefícios creditados. Exemplo clássico: ômega 3 e saúde cardiovascular.
Há estudos mostrando bons desfechos clínicos com a utilização de ômega 3 encapsulado, assim como há meta-análises mostrando o contrário. Porém a grande maioria dos estudos que correlacionam ingestão (in natura = peixes, oleaginosas) e risco cardiovascular, mostram benefício. Ou seja, in natura pelo menos de acordo com os estudos mais recentes, tem se mostrado muito superior.
Não há comprovação científica de que multivitamínicos beneficiem saúde do coração
O uso de suplementos multivitamínicos e minerais não previne infarto do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou morte por doença cardiovascular, apontou a revisão de uma meta-análise abrangente feita com pesquisas relevantes.
“A lição é simples: não há evidências científicas de que os suplementos multivitamínicos e minerais beneficiem a saúde cardiovascular. Esperamos que o nosso artigo contribua para resolver a controvérsia sobre o uso de suplementos multivitamínicos e minerais para a prevenção da doença cardiovascular”, declarou ao Medscape o primeiro autor do estudo, Dr. Joonseok Kim, da University of Alabama em Birmingham (EUA).
O estudo foi publicado on-line em 10 de julho no periódico Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes.
“Quase metade dos adultos americanos toma suplementos vitamínicos e minerais, mas poucos benefícios foram comprovados”, disse a Dra. JoAnn Manson, chefe da medicina preventiva no Brigham and Women’s Hospital, e professora de medicina na Harvard Medical School, ambos em Boston, Massachusetts (EUA). A Dra. JoAnn não participou do estudo.
“No que se refere a multivitamínicos e doenças cardiovasculares, especificamente, nem estudos observacionais nem ensaios clínicos randomizados revelam benefícios claros para a prevenção primária ou secundária”, disse a Dra. JoAnn ao Medscape.
“É importante ressaltar que os médicos devem ser claros ao dizer aos pacientes que suplementos vitamínicos nunca substituirão uma alimentação saudável e balanceada, o que contribui muito para a saúde vascular. Além disso, os micronutrientes dos alimentos são mais bem absorvidos pelo organismo do que os suplementos”, alertou.
Dr. Kim e colaboradores fizeram uma revisão sistemática e uma meta-análise de 18 estudos com mais de dois milhões de adultos (média de idade de 57,8 anos), com uma média de acompanhamento de 11,6 anos. Destes, 11 estudos foram feitos nos Estados Unidos, quatro na Europa e três no Japão. Apenas cinco estudos especificaram a dose e o tipo de suplemento multivitamínico e mineral utilizado.
No geral, não houve associação entre o uso de suplementos multivitamínicos e minerais e a mortalidade por doença cardiovascular, informaram os pesquisadores.
Também não houve vínculo entre suplementos multivitamínicos e minerais e doença cardiovascular ou mortalidade por doença coronariana nos subgrupos pré-determinados categorizados por média de acompanhamento; média de idade; tempo de uso dos suplementos; sexo; tipo de população; exclusão de pacientes com história de doença coronariana; e ajuste por alimentação, tabagismo, prática de atividades físicas e centro do estudo.
O uso de suplementos multivitamínicos e minerais pareceu estar associado a menor risco de incidência de doença coronariana (risco relativo, RR, de 0,88; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,79 a 0,97). No entanto, esta associação não permaneceu significativa na análise de subgrupos agrupados de ensaios clínicos randomizados (RR = 0,97; IC de 95%, de 0,80 a 1,19).
“Tem sido excepcionalmente difícil convencer as pessoas, inclusive os pesquisadores em nutrição, a reconhecer que os suplementos multivitamínicos e minerais não previnem doença cardiovascular”, disse o Dr. Kim em um comunicado à imprensa.
“Espero que os resultados do nosso estudo contribuam para reduzir o frenesi em torno dos suplementos multivitamínicos e minerais, e incentive as pessoas a usarem métodos comprovados para reduzir o próprio risco de doença cardiovascular – como comer mais frutas e legumes, fazer exercícios e evitar o tabaco”.
A American Heart Association não recomenda o uso de suplementos multivitamínicos e minerais na prevenção de doença cardiovascular.
“Prática plausível, porém inútil”
No editorial que acompanha o estudo, a Dra. Alyson Haslam e o Dr. Vinay Prasad, ambos da Oregon Health & Science University, em Portland (EUA), observaram que as práticas em biomedicina costumam ser adotadas porque “apelam às nossas esperanças e por existir plausibilidade biológica”.
No caso dos multivitamínicos, faz sentido que algumas vitaminas possam reduzir o risco de doença cardiovascular, por serem anti-inflamatórias ou, mais amplamente, por melhorarem a saúde e o bem-estar. No entanto, neste caso, parece que o não fazem, assim sendo, o uso de multivitamínicos para doença cardiovascular entra para a lista de práticas plausíveis, porém inúteis em cardiologia”, concluíram.
Embora as doses dos multivitamínicos tendam a ser moderadas e, provavelmente, mais seguras do que as altas doses dos suplementos alimentares separadamente, “não são completamente isentas de risco para todos os pacientes”, afirmou a Dra. JoAnn ao Medscape.
Por exemplo, os suplementos alimentares podem interagir com alguns medicamentos, como a vitamina K e a varfarina, interferir nos resultados de alguns exames laboratoriais, como a dosagem dos níveis de biotina e troponina, e também causar efeitos colaterais, como sintomas digestivos, em alguns pacientes, explicou.
“Assim, a suplementação multivitamínica de rotina não é recomendada para a população em geral, embora uma abordagem direcionada seja apropriada em certos momentos da vida e para os grupos de alto risco”, disse a Dra. JoAnn.
Alguns exemplos de momentos pertinentes são durante a gestação, quando a suplementação com ácido fólico e vitaminas do pré-natal apresenta resultados positivos, e na meia-idade ou para os idosos – destes, alguns podem se beneficiar da suplementação de vitamina B12, vitamina D e/ou cálcio. Os grupos de alto risco, como as pessoas com síndromes de má absorção, dietas restritivas, osteoporose, anemia perniciosa e degeneração macular relacionada à idade, bem como as pessoas que fazem uso prolongado de metformina ou inibidores da bomba de prótons, também podem se beneficiar dos suplementos alimentares, afirmou.
A Dra. JoAnn também observou que o Physicians’ Health Study II, um ensaio clínico randomizado em larga escala sobre multivitamínicos para homens, revelou que esses suplementos podem reduzir discretamente a incidência de câncer. Este resultado está sendo estudado mais profundamente no ensaio clínico COSMOS, que está testando se os multivitamínicos, com ou sem flavonoides do cacau, podem reduzir o risco de câncer e de doença cardiovascular em homens e mulheres idosos.
“Os resultados do COSMOS são esperados para daqui a dois anos, portanto, fiquem atentos”, recomendou a Dra. JoAnn.
Os autores declararam não receber financiamento externo nem possuir conflitos de interesse relevantes. O Dr. Vinay Prasad recebeu royalties por seu livro Ending Medical Reversal e remuneração por contribuições ao Medscape.
Dr. Frederico Lobo - Nutrólogo Joinville
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