Mesmo com todo o conhecimento científico atual sobre mecanismos fisiopatológicos e perpetuadores da obesidade, a doença continua a crescer de forma exponencial principalmente no mundo ocidental.
Segundo o Dr. Walmir Coutinho (estudioso do tema) a escalada vertiginosa da obesidade em diversas populações, incluindo países industrializados e economias em transição, levanta a questão de que alguns fatores estão levando a essa pandemia (Epidemia global).
Considerando-se que o nosso código genético não pode ter sofrido mudanças importantes neste intervalo de poucas décadas, certamente os fatores ambientais devem explicar esta pandemia.
O que é obesidade?
A grosso modo é a conceituação mais simples seria: Quantidade de tecido adiposo acima do limite superior esperado para idade, estatura e raça. Ou seja, excesso de gordura.
O que é emagrecer?
Emagrecer é perder gordura corporal e nem sempre isso reflete na queda do peso na balança. Por isso que a utilização de balanças, na atualidade, consideramos como algo ultrapassado. O paciente pode emagrecer e até mesmo ganhar peso na balança, pelo aumento da massa músculo-esquelética. Ganhar músculo e trocar massa magra por massa gorda pode ser emagrecer.
Como se diagnostica obesidade?
A forma mais simples é através do índice de massa corporal (IMC), entretanto o mesmo apresenta algumas falhas. Portanto os melhores métodos para diagnóstico são:
– Cineantropometria (medida de dobras cutâneas)
– Bioimpedanciometria (Bioimpedância)
– DEXA (padrão-ouro)
Quais as causas da obesidade?
São inúmeras as causas da obesidade, e se eu fosse citar todas as possíveis, esse texto teria pelo menos 10 páginas. A etiologia da obesidade é complexa, multifatorial, resultando da interação de genes, ambiente, estilos de vida, ingestão alimentar, prática de atividade física, combinados com fatores emocionais. Sendo assim sabemos que há fatores genéticos (polimorfismos genéticos) inter-relacionados com fatores ambientais (ambiente obesogênico), infecções virais, doenças endócrinas (Hipotireoidismo, Doença de Cushing), síndromes genéticas (Prader-Willi) que podem levar o indivíduo a engordar.
Mas alteração em que, levaria a um aumento do peso?
Há componentes primários no sistema neuroendócrino envolvidos na gênese da obesidade:
O nosso balanço energético pode ser alterado por:
O aumento do consumo de calorias pode ser avaliado por meio do hábito alimentar usando recordatório alimentar ou frequência alimentar, mas a interpretação das informações precisa ser cuidadosamente analisada devido a uma subestimação
Regular. Por isso em todos os pacientes eu peço Recordatório alimentar funcional, criado por mim, olhando não só o aspecto quantitativo, qualitativo, mas também emocional e comportamental do paciente.
Já o gasto energético total (GET) gente estima através de:
Há doenças endócrinas que podem favorecer um alentecimento do metabolismo ou aumento do apetite. Assim como há medicações que também podem favorecer o ganho de gordura.
Para piorar a situação há diversos fatores emocionais que podem levar o indivíduo a comer sem estar necessariamente com fome (fome emocional), a reduzir a prática de atividade física.
Também temos inúmeras medicações que sabidamente podem promover ganho de peso, as principais são:
Consequências da obesidade
São apenas algumas das complicações decorrentes da obesidade.
Tratamento da obesidade
O tratamento da obesidade dependerá principalmente do IMC e da presença ou não de comorbidades. Um protocolo que utilizo tanto no consultório particular quanto no ambulatório de Nutrologia no SUS é o seguinte:
Paciente com sobrepeso: IMC de 25 a 29,91
Paciente com obesidade grau I: IMC de 30 a 34,9
Paciente com obesidade grau II: IMC de 35 a 40
Paciente com obesidade grau III: IMC >40
O foco do tratamento é:
Doutor, mas eu faço tudo certinho, uso medicação e não elimino gordura
Raríssimos casos essa pergunta fica sem resposta. Eu em parceria com uma amiga endocrinologista e com um amigo médico do esporte elaborados um check-list para verificar se o paciente realmente está fazendo tudo corretamente. Baseado nesse check-list tomamos condutas individualmente.
Farmacoterapia antiobesidade
Uma dúvida frequente dos pacientes é com relação ao tratamento medicamentoso da obesidade. Afinal em um mundo ignorante como o nosso, há diversos profissionais da área da saúde que divulgam inverdades sobre a farmacoterapia antiobesidade.
É possível emagrecer sem medicação?
Sim, é possível, mas são poucos casos (sim, em um universo com milhões de obesos em todo o mundo) os casos de sucesso e com manutenção do peso perdido a longo prazo são raros. Nesses quase 5 anos a frente do ambulatório de Nutrologia do SUS e atendendo cerca de 70 pacientes obesos por semana (cerca de 280 por mês), posso afirmar que tenho experiência no tratamento da obesidade e sobrepeso.
E o que tenho visto nesses anos é que a taxa de sucesso terapêutico no tratamento da obesidade é muito baixa, quando se utiliza apenas o combo “dieta e atividade física”. Isso funciona bem para aqueles que estão em sobrepeso ou que ganharam peso recentemente. Para a maioria dos casos de Obesidade, a dupla Dieta + Atividade física não consegue promover perda de peso considerável e muitas vezes nem a manutenção sustentada da perda de peso.
Medicações possuem efeitos colaterais e se dependesse de mim, nenhum paciente as utilizariam. Aliás, por anos “olhei torto” para a farmacoterapia antiobesidade. Quando você começa a tratar um grande volume de pacientes e vê que os que melhor respondem são os que adotam a tétrade: Dieta + Atividade física + medicação + psicoterapia, aí o preconceito com as medicações subitamente desaparece.
Mas afinal, qual o real benefício e impacto de uma medicação para tratamento da obesidade?
Segundo o prof. Dr. Bruno Halpern (médico endocrinologista e estudioso da doença), para uma medicação ser aprovada pelo FDA (Agência reguladora americana), uma medicação, além de demonstrar segurança, deve também, em estudos clínicos:
Mas isso não é muito pouco, dirão alguns?
Para a maioria das pessoas que buscam perda de peso, perdas ao redor de 5-10% do peso são sim pequenas e podem decepcionar à primeira vista, mas devemos levar alguns pontos em consideração. As afirmações abaixo foram retiradas de um texto desabafo do Dr. Bruno Halpern em seu facebook, após um profissional da educação física (com grande números de seguidores) alegar que a perda de peso promovida pela Liraglutida (medicação para tratamento de diabetes e obesidade) era ínfima, não justificando o seu uso. Considerações importantes:
1 – A média de perda de peso com dieta e exercício, em estudos bem feitos, em que houve um controle enorme por parte dos profissionais de saúde para garantir adesão é ao redor de 3 kgs. Entre os respondedores, apenas 10% das pessoas conseguem perder ao menos 10% do peso e manter no longo prazo. Portanto, simplesmente dizer “é fácil, é só fazer dieta e exercício e pronto” não se baseia em nenhum estudo de evidência e todo mundo que trata pacientes obesos sabe disso. As afirmações são baseadas em meta-análises feitas sobre eficácia de atividade física e dieta no tratamento da obesidade. Nada do que foi afirmado acima é achismo e sim achados de estudos científicos bem conduzidos.
2 – O tratamento não é “só” medicação – todos esses estudos, tanto o grupo que toma a medicação, como o grupo placebo, fazem modificação de estilo de vida, portanto não é medicação versus dieta e exercício e sim uma soma. Assim, o grupo placebo muitas vezes perde sim um pouco de peso, fazendo com que, embora a diferença possa ser na casa de 5%, o grupo que tomou remédio perdeu mais evidentemente.
3 – A “média” é um conceito falho, pois engloba pacientes que:
Aqui vemos uma individualidade do tratamento. O arsenal farmacológico para tratamento da obesidade apesar de pequeno, possui medicações com mecanismos de ação diferentes e que podem se enquadrar no perfil do paciente. O que serve para um, não serve para outro. Isso é muito comum no ambulatório.
Outro ponto interessante nos estudos é justamente essa heterogeneidade de participantes dos estudos. No resultado final se aloca todos que participaram e quantifica-se uma média de perda de peso. Vários pacientes perdem mais que 30% do peso inicial, assim como vários perdem 20% e outros apenas 5%.
4 – Perdas de peso na casa dos 5-7% já são suficientes para melhorar muitos fatores de risco associados à obesidade como hipertensão, apnéia do sono, hipercolesterolemia. Cada kg de peso reduz o risco de desenvolvimento de diabetes em 17%. Perdas acima de 10% podem estar associadas a redução de mortalidade e acima de 15% são suficientes para causar redução importante de inflamação, que é um fator de risco enorme para doenças cardíacas, segundo Dr. Bruno Halpern. Ou seja, analisando os bons respondedores, podemos ter pacientes que se beneficiam muito, mesmo com perda ponderal considerada por alguns como ínfima. Na prática o que se vê no retorno dos pacientes, é que mesmo com perdas de 5% eles mostram contentamento com os resultados e relatam melhora em sintomas inespecíficos, tais como: melhora do sono, mais disposição, menos sonolência diurna, maior tolerabilidade aos exercícios, melhora do humor, redução de dores articulares, melhora da autoestima. Ou seja, externalizam isso quando questionados: – O que mudou na sua vida após esses kilos perdidos?
5 – Para o Dr. Bruno Halpern, uma outra maneira de analisar a eficácia das medicações é observando qual a chance de um paciente atingir um determinado porcentual de perda de peso com a medicação e dieta versus só a dieta. Temos muitas medicações, mas um número que vemos em algumas (como a liraglutida, que nos estudos sempre faz essa análise) é ao redor de 3. Ou seja, uma pessoa, engajando em um programa de perda de peso completo tem 3 vezes mais chance de atingir um resultado significativo com o remédio do que sem ele. Isso garante 100% de certeza? Não, longe disso. Mas pode modificar a vida de muitas pessoas.
Ou seja, medicações não são milagres, com objetivo de “secar” as pessoas para o verão. São opções com limitações, mas que podem ajudar muito a vida de pacientes que sofrem com obesidade, que é tão difícil de tratar e tão estigmatizada na sociedade.
Dr. Bruno Halpern também afirma que a escolha da medicação leva em conta diversas características do paciente, assim como contraindicações. Nem todos podem usar todas as medicações, e é função de um profissional médico sério escolher as opções baseado em tudo isso, e saber reavaliar o paciente para trocar, se assim for necessário.
Além disso, as medicações aprovadas para tratamento da obesidade e vendidas em farmácia (no Brasil temos sibutramina, liraglutida e orlistate, e a lorcaserina aprovada, mas ainda não vendida) passaram por crivo de estudos de segurança, e podem ser usadas no longo prazo (embora a sibutramina seja contraindicada em quem tem doença cardiovascular prévia, por poder aumentar ligeiramente a pressão, principalmente nos que perdem pouco peso com ela). A liraglutida possui estudos de segurança em população diabética de alto risco e mostrou não só segurança, como redução de eventos cardiovasculares nessa população. E uma análise de estudos para obesidade sugere (embora não seja um dado definitivo), que o mesmo ocorra em não diabéticos.
Hoje na Nutrologia e na Endocrinologia já se sabe que a obesidade é doença crônica e o tratamento seja qual ele for (remédios, dieta, exercício, psicoterapia) deve ser crônico também, pois, como sempre digo, manter o peso é como andar numa escada rolante ao contrário, sempre reforçando a importância da dieta, exercício, vigilância e aprendizado de hábitos saudáveis.
GASTROFÍSICA – O QUE É E QUAL SUA APLICABILIDADE?
Ultimamente alguns profissionais da área da saúde, em especial nutrólogos e endocrinologistas estão sendo questionados por pacientes sobre conceitos de Gastrofísica.
Amada ou odiada, a gastronomia molecular tem sido um dos mais influentes movimentos alimentares da última década. Mas, como o conceito está um pouco gasto, uma nova abordagem científica (com um nome novo misturando comida e ciência) vem ganhando força: a Gastrofísica.
O conceito de gastrofísica foi criado pelo professor de psicologia experimental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Prof. Dr. Charles Spence, no seu livro “Gastrophysics: The New Science of Eating by Charles Spence“.
No livro ele defende a teoria de que se sentir satisfeito após uma refeição tem muito mais a ver com a sua mente, do que com o que está no prato. A gastrofísica estuda os fatores que influenciam as escolhas alimentares. Não só por que gostamos de comer carne de gado e não insetos, mas também as razões que nos levam a pagar mais por um prato ou uma garrafa de vinho.
Spence aponta que somos bem suscetíveis a fatores em nada relacionados ao sabor. A nossa percepção do sabor pode mudar de acordo com vários fatores. O aroma e a nossa total apreciação da comida são influenciados por todos os sentidos (sim, até mesmo pela audição), da mesma forma que o nosso humor e expectativas.
Spence e seus gastrofísicos contemporâneos, que trabalham em áreas que vão da psicologia, da neurociência e das ciências sensoriais ao marketing, à economia comportamental e ao design – não falam sobre o “gosto de” uma refeição. Em vez disso, dizem o “sabor de”, porque sabem que o gosto, que tecnicamente só acontece na língua, é uma parte insignificante do efeito global.
Grande parte dos achados de Spence e de seus colegas fazem sentido instintivo, como o que revela que a comida colocada no prato de forma bagunçada não terá o gosto tão bom como aquela organizada perfeitamente ou artisticamente.
E que grande parte desse corpo de conhecimentos foi usado pela Grande Indústria para manipular os consumidores desde a década de 1930, quando os fabricantes da 7-Up já sabiam que quanto mais amarela a lata, mais cítrico o sabor da bebida. Ou que quanto mais arredondado (o produto ou o seu logotipo) mais doce ou quanto mais pontudo mais amargo.
A luz ambiente, por exemplo, pode alterar o julgamento sobre o gosto do vinho. Talheres pesados fazem a comida parecer mais gostosa. A consequência direta é que, ao se manipular fatores assim, é possível levar alguém a achar que insetos são gostosos.
E esse não é um exemplo fictício: a equipe de Spence está de fato trabalhando na percepção humana sobre o sabor dos artrópodes. No futuro, diante de um cenário em que animais como frangos e porcos seriam insuficientes, o consumo dos bichinhos nojentos pode ser necessário. “Há indícios de que precisaremos seguir rumo a uma dieta em que eles sejam importantes fontes de proteínas”, disse Spence ao site da Revista GOSTO, após voltar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde realizou uma série de jantares.
Uma das conclusões é que o ângulo de posicionamento da comida no prato pode levar os clientes a gostar mais dele e, consequentemente, pagar um valor maior.
No seu livro The Perfect Meal: The Multisensory Science of Food and Dining (ainda sem título em Português) lançado no ano passado, ele dá algumas dicas:
Quanto mais você se envolver com sua refeição, mais satisfeito fica. “Usar o tato, a visão, o olfato, o paladar e a audição na hora de comer faz com que você sinta menos fome com o passar das horas”, confirma Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. É que nosso cérebro só decide que está na hora de parar de comer depois que teve tempo de aproveitar todas essas sensações.
Fontes:
CIRURGIA BARIÁTRICA: Indicações, contraindicações, técnicas, complicações, prognóstico – EM CONSTRUÇÃO
ASPECTOS EMOCIONAIS DA OBESIDADE – EM CONSTRUÇÃO
A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA OBESIDADE – EM CONSTRUÇÃO
MINDFULLNESS EM OBESIDADE – EM CONSTRUÇÃO
Dr. Frederico Lobo - Nutrólogo Joinville
CRM-SC 32949 | RQE 22.416
Telefone: (62) 99233-7973 (Whatsapp)
© Desenvolvido por Lyon Systems.